Prefiro revisitar minhas memórias
pra me fazer sempre nova

2 de agosto de 2016

Além


Sinto falta da sombra quente do final da primavera
E das flores que se deitavam no quintal
Cada uma tão sem igual
Como os olhos que atravessam as esquinas
Como os lábios que mentem rotinas
balbuciando felicidades pré-escritas

Sinto falta dos cantos dos móveis queimados de bitucas
e da luz da manhã que vinha das almas que sempre julguei puras
Como a despretensão das crianças
Como a imaginação das crianças

Ausência é um copo quebrado
Tendo sido colado mil vezes os cacos:
Nunca será igual

E nem mesmo as crianças tem um coração tão ingênuo quanto antes
Muito menos os jovens carregam aquela esperança franca e palerma
Ou os idosos carregam sabedorias das suas vivências cretinas

Todas as lidas estão tortas
Assim como meu peito bombeando água
Enquanto bebo sangue e
Calejo os dedos
E culpo a falta de um bom fim de primavera
Sempre flores dormindo no chão

Nunca mais luzes da manhã